Emprego da análise hierárquica de processos para avaliação do nível de importância das inteligências múltiplas em discentes de cursos de graduação

Carlos Eduardo Pereira de Quadros

cep.quadros1@gmail.com

Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande, RS, Brasil.

Diana Francisca Adamatti

dianaada@gmail.com

Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande, RS, Brasil.

André Andrade Longaray

andrelongaray@furg.br

Universidade Federal do Rio Grande – FURG – Rio Grande, RS, Brasil.


RESUMO

As Inteligências Múltiplas (IMs) são um conjunto de oito habilidades individuais passíveis de serem aperfeiçoadas no âmbito da formação do estudante do ensino superior. A possibilidade de identificar e classificar tais habilidades permite a atuação efetiva no desenvolvimento das IMs mais relevantes para o estudante de acordo com a sua área de graduação. Nesse sentido, o presente artigo tem por objetivo descrever o emprego do método de Análise Hierárquica de Processos (AHP) como instrumento de classificação do nível de atenção a ser dado a cada uma das (IMs) em uma amostra de discentes do ensino superior. Para tanto, foi realizado, por meio de questionário, o levantamento das IMs em uma amostra de 500 estudantes de uma instituição pública de ensino superior. Na sequência, os pesquisadores empregaram o AHP para ordenar e classificar as IM da amostra. Foi possível, assim, concluir que o AHP pode ser usado como forma de classificação e avaliação para a teoria das IMs, auxiliando na escolha de quais IM precisam de mais atenção e quais não necessitam de intervenção. As limitações da pesquisa foram no sentido de utilizar apenas um instrumento de análise multicriterial. Portanto, para trabalhos futuros pretendemos utilizar a base de dados obtida do trabalho e aplicar outras metodologias de análise multicriterial.

Palavras-chave: Método de análise hierárquica; Inteligências múltiplas; Educação; Análise multicriterial.


INTRODUÇÃO

A teoria das Inteligências Múltiplas (IM) é composta por um conjunto de oito inteligências e é um contraponto aos testes de QI — Quociente de Inteligência — tradicionais, que avaliam apenas duas habilidades: a lógico-matemática e a linguística (Gardner, 1983). Como o conceito de inteligência pode sofrer alterações dependendo do contexto cultural: o que é valorizado em uma determinada cultura pode não ser valorizado em outra. Se levarmos em conta apenas as oito inteligências propostas na teoria de Gardner, até mesmo dentro da própria evolução, algumas inteligências foram mais importantes que as demais. Como exemplo, a naturalista que trata da compreensão da natureza, das plantas e animais. Conhece-se pouco sobre habilidades e capacidades que os testes não mensuram, como sabedoria, criatividade, conhecimento prático, habilidades sociais etc. (Consenza e Guerra, 2011). Contudo, com essa teoria é possível ter uma visão mais ampla sobre as inteligências dos indivíduos. Dentro deste contexto, tem-se o questionamento se além da cultura, a área de conhecimento escolhida pelas pessoas também é influenciada pelas IMs. Esta pesquisa busca responder este questionamento, fazendo uso do método de análise hierárquica (AHP) — analytic hierarchy process — (Saaty, 1988) como instrumento de classificação para o nível de importância a ser dado para cada uma das inteligências múltiplas (IMs) — multiple intelligences — (Gardner, 1983) identificadas nas respostas de um estudo que envolveu discentes de vinte cursos de uma instituição pública de ensino superior brasileira. A amostra do estudo foi composta por quinhentos estudantes, e em um estudo prévio com estes dados, conseguimos analisar a combinação entre a formação acadêmica dos estudantes (área de conhecimento escolhida) e as inteligências múltiplas (Quadros, Sampaio e Adamatti, 2021), sem definir o seu nível de importância, o que um método multicritério, como o AHP, nos permite fazer.

Um levantamento prévio sobre a relação entre o método de análise hierárquica e a sua aplicação na teoria das inteligências múltiplas foi realizado através do trabalho de Quadros, Longaray,e Adamatti (2021). No contexto desta avaliação de metassíntese, sem estipular um período definido, este trabalho realizou uma busca pelos termos “analytic hierarchy process_” e “_multiple intelligences_” no período de novembro a dezembro de 2020. Após o descarte de teses e dissertações restaram nessa coleta apenas sete artigos que utilizavam o método de análise hierárquica em conjunto com a teoria das inteligências múltiplas. Dos sete trabalhos, três se concentravam na área de saúde (Rezaie _et al., 2012, 2013, 2014) e quatro possuíam aplicação na área da educação (Chin-Wen et al., 2016; Oktavia e Madyatmadja 2018; Ahsan et al., 2019; Peiyu, 2019). Porém, nenhum desses trabalhos apresentou uma aplicação do AHP na teoria das IMs através da avaliação multicriterial das IMs em perfis de indivíduos, levando em conta a maneira como o perfil se identifica com cada inteligência. Dessa forma, identificamos essa lacuna para empregar o método AHP na teoria das IMs.

A base de dados dos perfis discentes, utilizada para esta pesquisa, indica como estes clusters de alunos se identificam de acordo com o grupo das inteligências múltiplas. Através da aplicação do AHP, utilizando cada inteligência múltipla como um critério de avaliação, temos a possibilidade de demonstrar que a aplicação do método pode ser útil para avaliação das IMs mais e menos importantes para uma possível intervenção, sendo este o principal objetivo desta pesquisa.

A organização desse trabalho está da seguinte forma: a seção 2 apresenta uma breve introdução sobre a teoria das inteligências múltiplas; a seção 3 mostra o método de análise hierárquica que será utilizado nesse trabalho; a seção 4 detalha o processo metodológico da aplicação do método AHP na teoria das IMs; a seção 5 trata dos resultados e discussões acerca do trabalho apresentado e, por fim, a seção 6 expõe as conclusões sobre a pesquisa.

A TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

A teoria das Inteligências Múltiplas foi criada em 1983 pelo pesquisador Howard Gardner e vem se consolidando com o passar dos anos, pois o fato de não ser uma teoria fechada lhe permite que novas inteligências — quando cumprem determinados requisitos — possam entrar para a lista de possíveis candidatas a inteligências para posteriormente compor o conjunto das IMs (Gardner, 1995).

Atualmente, a teoria é composta por um grupo de oito inteligências que podem ser observadas junto a uma breve descrição no Quadro 1. O conjunto de inteligências proposto na teoria, à época, tinha como proposta inicial fazer um contraponto aos testes de quociente de inteligência (QI) que apenas abordavam as habilidades de linguística e lógico-matemática. Esse conjunto de inteligências proposto está diretamente ligado a determinadas profissões, e a proposta da ideia fica de modo sugestivo para que educadores incorporem as inteligências em seu planejamento curricular para uso prático em sala de aula (Nolen, 2003).

Todos os indivíduos possuem as oito inteligências de forma única, como se fosse um equalizador com um botão para cada inteligência, que regula entre os graus mínimo e máximo (Armstrong, 2001). Dessa maneira, a teoria das IMs não é uma classificação de apenas um determinado tipo de inteligência, mas de um grupo de habilidades que todas as pessoas possuem, umas com mais e outras com menos, dentre o conjunto das oito IMs.

No ano de 2023, a teoria das IMs completará quarenta anos de existência e, durante esse período, uma quantidade significativa de trabalhos espalhados pelo mundo foram escritos de forma a colaborar para a disseminação da teoria, criação de aplicações que contribuam com o aprimoramento de cada inteligência, formulação de testes para avaliação das IMs em diversos grupos de indivíduos, entre outros. Essa perspectiva de como a teoria avançou no mundo foi apresentada no livro Inteligências Múltiplas ao Redor do Mundo, de Gardner, Chen e Moran (2010), que apontaram estudos realizados na Ásia e regiões do pacífico, na Europa, na América do Sul e nos Estados Unidos (país de origem da teoria das IMs).

O Quadro 1 apresenta um pouco das características de cada uma das oito inteligências propostas na teoria das IMs de Howard Gardner.

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O MÉTODO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA (AHP – analytic hierarchy process)

O método da Análise Hierárquica de Processos (AHP) foi criado pelo professor Thomas L. Saaty nos anos 1980 (Saaty, 1988). O processo de tomada de decisão com o AHP permite avaliar de forma precisa a importância de cada critério colocado para análise dentro de níveis hierárquicos. Desde a sua criação até o presente momento, o AHP, que é colocado como uma ferramenta simples e robusta para a tomada de decisões complexas, vem sendo estudado e aprimorado ao longo dos anos (Handfield et al., 2002). O método é hierárquico, pois possui, em seu modelo básico uma estrutura de três níveis, que são: no topo, o objetivo, logo abaixo temos os critérios e, por fim, as alternativas.

A aplicação do método AHP passa por uma estruturação do problema passo a passo, desde a construção do objetivo geral, a escolha de critérios e subcritérios para escolha de fatores mais e menos importantes, passando pela montagem das escalas até a obtenção do resultado final (Saaty, 1990). Thomas Saaty, para sanar problemas de comparações feitas por escalas absolutas, publicou um trabalho que apresenta ideias de como melhorar julgamentos inconsistentes e obter melhores resultados (Saaty, 2008). Cabe salientar que a estruturação do problema resolvido pelo método AHP não permite apenas a inclusão de critérios quantitativos, mas também a inclusão de critérios qualitativos.

O AHP tem aplicação na tomada de decisões nas mais diversas áreas, como exemplo: em Economia, com um estudo de avaliação de fornecedores (Handfield et al., 2002), com a seleção e avaliação de projetos (Palcic e Lalic, 2009), com um estudo de caso de processo públicos de licitação (Longaray, 2014); na Administração, com a análise de decisão do gestor para pequenas e médias empresas de Tecnologia da Informação - TI (Jerônimo et al., 2016); na Engenharia de Produção, com identificação das perdas em qualidade nos processos produtivos (Sousa, 2016); com melhoria de processos de fabricação em Manutenção Produtiva Total (TPM) em um complexo portuário (Sousa, 2021); em Geociências, com o desenvolvimento de uma macro que permite derivar pesos de critérios para decisões sobre o uso da terra (Marinoni, 2004); e também em Turismo, com uma aplicação para a seleção do local de convenção (Chen, 2006). O trabalho de Vaidya (2006), que apresenta uma visão geral das aplicações que usam o método multicritério AHP, categoriza os trabalhos de acordo com os temas identificados com base nas áreas de aplicação, agrupados por ano e também por região.

Um levantamento prévio sobre a relação entre o Processo de Análise Hierárquica (AHP) e a sua aplicação na Teoria das Inteligências Múltiplas (IM) foi realizado através do trabalho de Quadros, Longaray e Adamatti (2021). No contexto desta avaliação de metassíntese, sem estipular um período definido, este trabalho realizou uma busca pelos termos “_analytic hierarchy process_” e “_multiple intelligences_” no período de novembro a dezembro de 2020. Após o descarte de teses e dissertações, restaram nessa coleta apenas sete artigos que utilizavam o Processo de Análise Hierárquica (AHP) em conjunto com a Teoria das Inteligências Múltiplas (IM). Dos sete trabalhos, três se concentravam na área de saúde (Rezaie, 2012, 2013, 2014) e quatro possuíam aplicação na área da educação (Liao, 2016; Oktavia e Madyatmadja, 2018; Ahsan, 2019; Yan, 2019). Dessa maneira, identificamos uma lacuna para podermos empregar o método AHP na teoria das IMs.

METODOLOGIA

O trabalho tem como um de seus objetivos expor a compreensão de como o método AHP pode colaborar com a classificação das IMs em perfis de discentes do ensino superior. Esta pesquisa se caracteriza como descritiva em relação aos seus objetivos e Ex-Post Facto em relação à sua natureza, pois estuda as relações entre duas ou mais variáveis de um dado fenômeno sem manipulá-las (Koche, 2016).

Em relação à técnica de coleta e análise dos dados, este trabalho se classifica como qualitativo e quantitativo, nos quais os resultados numéricos são complementados por resultados qualitativos (Pereira, 2018). Logo, a partir da base de dados dos perfis discentes, passamos à aplicação do método e análise dos resultados nesta pesquisa qualitativa e quantitativa.

A base de dados utilizada para esta pesquisa foi obtida através de um questionário com oitenta e uma (81) questões para o conjunto das oito IMs, proposto por Armstrong (2001). As questões desse instrumento servem apenas para adultos e, através dele, conseguimos avaliar o grau de importância de cada inteligência para cada indivíduo pesquisado. Estes indivíduos foram organizados por grupos por meio dos cursos em que estavam matriculados.

No organograma desta instituição pública de ensino superior brasileira, os cursos são organizados em clusters (denominados de unidades acadêmicas1) por áreas que possuem proximidade da seguinte maneira: o Centro de Ciências Computacionais (C3) é composto pelos cursos de Engenharia de Automação, Engenharia de Computação e Sistemas de Informação; o Instituto de Ciências Humanas e da Informação (ICHI) é composto pelos cursos de Arqueologia, Arquivologia, Biblioteconomia, Geografia (Bacharelado e Licenciatura), História (Bacharelado e Licenciatura), Hotelaria, Psicologia, Tecnologia em Eventos e Turismo; e, por fim, o Instituto de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis (ICEAC), que é composto pelos cursos de Administração, Administração (campi Santo Antônio da Patrulha), Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Comércio Exterior, Tecnologia em Gestão de Cooperativas.

Por meio deste questionário, em trabalho prévio, conseguimos apontar a combinação entre a formação acadêmica dos estudantes (área de conhecimento escolhida) e as inteligências múltiplas (Quadros et al., 2021), usando métodos estatísticos. As respostas desses estudantes ao questionário formam uma base de quinhentos indivíduos (15,06% do total de 3.313 estudantes que receberam o questionário), vinte cursos de graduação das áreas de Engenharia, Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas. Estes questionários foram enviados por e-mail aos estudantes regularmente matriculados e ficaram disponíveis para respostas por 15 dias. Logo, esta é a base de dados usada para aplicação do método AHP desta pesquisa. A ideia principal deste trabalho é aplicar o método AHP nessa base de dados, de forma a classificar quais inteligências precisam de mais atenção em um conjunto heterogêneo de indivíduos, de diferentes áreas do conhecimento.

Organização dos dados para uso no AHP

Para uso do método AHP, devemos realizar um conjunto de passos, os quais são descritos nesta seção. Iniciamos com as legendas para cada uma das oito inteligências que serão analisadas durante o processo, apresentadas no Quadro 2. Essas legendas foram criadas para serem usadas durante as fases de aplicação do método AHP e tratam da abreviação de cada uma das inteligências da teoria das IMs.

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O Quadro 3 apresenta os níveis de comparação do método de análise hierárquica de acordo com a escala fundamental de Saaty (1988).

Essa escala compreende os números de 1 a 9 para podermos evidenciar qual critério tem mais ou menos importância dentro da avaliação. Os números ímpares (1, 3, 5, 7 e 9), dentro da escala, compõem os campos de diferenciação dos critérios, e os números pares (2, 4, 6, e 8) fazem parte dos valores intermediários entre os critérios.

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A partir dos valores coletados das respostas da segunda coluna da Tabela 2 (estas informações são baseadas nas respostas dos estudantes e na análise estatística previamente realizada), foi realizada a normalização para podermos fazer uma adequação destes valores para a escala fundamental de Saaty (EFS). O processo está disposto no Tabela 1, e foi adotada a estratégia de colocar apenas os valores que têm efeito de importância (1, 3, 5, 7 e 9), e após a normalização, os resultados que tiveram valores intermediários (2, 4, 6 e 8) receberam a adequação necessária. Ou seja, se após a normalização o resultado da IM foi 0,12, para a adequação o valor passa a ser 0,13 e 5 na EFS.

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A Tabela 2 apresenta o resultado para cada uma das IMs em cada um dos clusters da instituição pública de ensino superior brasileira (Engenharias, Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas). O resultado apresentado no quadro, na segunda coluna, refere-se à proporção de respostas dadas em relação ao número de respondentes de cada cluster às IMs com as quais os alunos mais se identificavam, a partir dos resultados obtidos pelo estudo realizado em Quadros, Sampaio e Adamatti (2021). A coluna 3 do quadro apresenta uma normalização, para que fosse possível adequar as respostas à escala de Saaty, que vai de 1 até 9. E, por fim, na última coluna, temos os resultados da escala Saaty para aplicar o método AHP. Dessa maneira, cada inteligência passa a ser um critério para aplicação do método.

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RESULTADOS

Com adequação dos dados para a escala de Saaty (Tabela 2), é possível aplicar o método AHP nos clusters de Engenharias, Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas, respectivamente. As Tabelas 3, 4 e 5 apresentam estes resultados. Através dos dados extraídos dos três clusters, aplicamos a normalização para classificar cada IM em relação às demais de acordo com a escala fundamental de Saaty (EFS). Portanto, por meio dos inputs da coluna Saaty (EFS), aplicamos o método AHP na teoria das IMs.

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Após a aplicação do método AHP temos como resultado as médias de cada IM em relação às demais no conjunto das oito inteligências. Portanto, as Tabelas 6, 7 e 8 apresentam as médias dos resultados após aplicação do método AHP para os clusters de Engenharias, Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas, respectivamente.

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Por fim, de forma gráfica, apresentamos os resultados da aplicação do método AHP na teoria das IMs através da Figura 1, que ilustra os dados consolidados de todas as IMs e os três clusters utilizados para a aplicação do método AHP.

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A Tabela 2 apresenta de forma simplificada a adequação feita dos resultados do processo de normalização para a escala fundamental de Saaty (EFS). Após aplicar o processo de normalização, podemos perceber, através da Tabela 2, que os resultados possuem uma discrepância na seguinte sequência de resultados: 0,09 - 0,10 - 0,11 - 0,12 - 0,13 - 0,14 - 0,15 e 0,18. Dessa forma, foi necessário realizar uma adequação para a aplicação do método AHP, distribuindo os resultados obtidos para a EFS que variam de 1 até 9.

Essa adequação adota os valores da normalização e os distribui entre a EFS, de maneira que os valores intermediários (pares) sejam realocados para um número acima da escala e os valores com importância (ímpares) sejam distribuídos do menor ao maior valor da ESF. Essa distribuição dos valores para a adequação é apresentada na Tabela 2, na qual temos a lista das oito IMs, o resultado das coletas da base de dados, o cálculo da normalização e, por fim, os índices da EFS utilizados para a aplicação do método.

Após ser feita a adequação dos resultados da normalização para a ESF, colocamos os valores de cada IM na matriz (apresentadas nas Tabelas 6, 7 e 8) para fazer a aplicação do método que compara par a par como cada inteligência é mais ou menos importante, de acordo com as respostas dadas pelos discentes por cada cluster investigado na pesquisa (Engenharias, Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas).

Como podemos analisar nas Tabelas 6 - Engenharias, 7 - Ciências Humanas e 8 - Ciências Sociais Aplicadas, os resultados do emprego do método AHP retornam médias para cada IM. Essas médias são resultados da entrada dos índices da EFS após ser feita a adequação, a transposição da matriz para serem avaliadas par a par as IMs que precisam de mais atenção, a soma dos resultados e, por fim, a normalização. Esses passos são o cerne da aplicação do método AHP. A saber, no método puro, não há necessidade de transpor a matriz original, pois essa manobra foi realizada apenas para reorganizar as IMs que precisam de mais atenção.

Esses passos são o cerne da aplicação do método AHP. A saber, no método puro, não há necessidade de transpor a matriz original, pois essa manobra foi realizada apenas para reorganizar as IMs que precisam de mais atenção.

Usando como exemplo o cluster das Ciências Humanas (ou das Ciências Sociais Aplicadas), podemos perceber que o resultado das médias apresenta a seguinte sequência decrescente nos resultados: NAT, MUS, LÓG, LIN, TRA, TER, ESP, COR. Portanto, como o AHP faz uma avaliação par a par, o resultado é diferente da avaliação ordenada simples, na qual temos a sequência dos resultados das IMs da seguinte forma: TRA, LIN, MUS, NAT, ESP, TER, LÓG, COR (do menor para o maior). Ou seja, no cluster das Ciências Humanas, de acordo com as respostas enviadas pelos discentes para a pesquisa anterior, a IM com a qual teriam maior identificação seria a intrapessoal, e a com menor identificação seria a corporal cinestésica, em uma escala ordenada e sem levar em consideração nenhuma ponderação. Com a aplicação do método AHP a IM corporal cinestésica seria a que menos precisa de atenção (dentro da composição das oito IMs), enquanto a naturalista deveria ter uma atenção maior em relação às demais.

Através método AHP, que avalia a importância de cada critério em relação aos demais ou, no caso deste estudo, a importância de uma IM em relação às demais, podemos constatar que a sequência não é a mesma em relação à ordenação simples, pois temos: NAT, MUS, LÓG, LIN, TRA, TER, ESP, COR. Essa sequência se forma a partir da IM que precisaria de mais atenção até aquela que poderia ter uma atenção menor em relação aos indivíduos entrevistados.

No cluster das Engenharias, essa sequência de resultados não permanece a mesma, e fica da seguinte maneira: NAT, MUS, LÓG, LIN, TRA, COR, TER, ESP. Ou seja, as últimas três IMs não seguem a mesma sequência que nos clusters Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas.

Para fins de organização e análise, dividimos as IMs em dois grupos, de acordo com os resultados da aplicação do método AHP, pois podemos perceber que as inteligências naturalista, musical, lógico-matemática e linguística têm índices maiores em relação às outras quatro. Portanto, de modo geral, poderíamos sugerir que estas IMs tenham uma atenção e incentivo maior nas suas formações. E, em contrapartida, a inteligência corporal cinestésica, espacial, interpessoal e intrapessoal poderiam ser mantidas como já são empregadas. Em relação ao primeiro grupo, o das IMs que precisam de mais atenção, poderiam ser avaliadas novas metodologias e práticas para que esse grupo de entrevistados tivesse a oportunidade de desenvolver interesse por estas IMs ou até mesmo trabalhar algumas dificuldades ou bloqueios que não lhe permitam ter interesse por elas.

Um resumo da aplicação do método nos três clusters (Engenharias, Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas) é apresentado na Figura 1. Podemos observar no gráfico algumas diferenças no resultado comparado de alguns clusters. Sob a avaliação dos maiores índices após a aplicação do método, as Engenharias possuem valores maiores nas IMs corporal cinestésica, intrapessoal e lógico-matemática, as Ciências Humanas ficam com valores maiores nas IMs espacial, interpessoal, linguística e naturalista e, por fim, as Ciências Sociais Aplicadas ficam com o maior índice na IM musical.

Ainda nesses resultados, avaliando os menores índices, as Engenharias possuem valores menores para as IMs espacial, linguística e naturalista, as Ciências Humanas ficam com valores menores para as IMs corporal cinestésica, intrapessoal, lógico-matemática e musical e, por fim, as Ciências Sociais Aplicadas ficam com menor índice para a IM interpessoal.

Com a aplicação do AHP, utilizando cada inteligência múltipla como um critério de avaliação, demonstramos pelos resultados que a aplicação do método foi útil para a avaliação das IMs mais e menos importantes para uma possível intervenção. Todos nós possuímos todas as inteligências e as pessoas se diferenciam por terem níveis distintos em cada uma das inteligências. Dessa forma, esta aplicação que faz uma avaliação par a par apresenta a capacidade clara de apontar um melhor indicador de avaliação quando nos referimos à intervenção que pode ser feita nas inteligências que apresentaram resultados mais baixos.

CONCLUSÃO

As inteligências múltiplas apresentam uma nova forma de entendermos as capacidades dos indivíduos, diferente da forma habitual, que é o teste de QI. As IMs apresentam uma versão plural das nossas expertises, que ultrapassam o teste de lápis e papel que avalia apenas a inteligência lógico-matemática e a linguística. O método de tomada de decisões multicritérios AHP organiza os critérios par a par, de forma que possamos comparar a importância de um item sobre outro e justificar a escolha por meio da aplicação do método.

O objetivo principal deste trabalho foi utilizar os resultados coletados em uma pesquisa anterior, que classificava o perfil discente do ensino superior de acordo com as IMs com as quais mais se identificavam para, posteriormente, aplicar o método de análise hierárquica e avaliar de forma qualitativa e quantitativa quais inteligências precisam de mais atenção e quais não necessitam de intervenção.

No intuito do atingir o objetivo proposto, este trabalho apresentou de modo geral o que são as inteligências múltiplas, qual era a sua proposta inicial e algumas especificidades de cada IM. O trabalho também apresentou o método multicritério AHP para tomada de decisões, os passos centrais por onde percorre a estruturação e aplicação do método e, por fim, algumas aplicações em diversas áreas.

Os principais resultados alcançados nesse trabalho podem responder às seguintes questões: 1) Quais inteligências precisam de mais atenção dentro do conjunto das IMs? 2) Qual é o índice quantitativo de cada inteligência no grupo? 3) Qual é a diferença entre uma inteligência e outra após a aplicação do método? 4) Quais inteligências podem ser mantidas nas estratégias de ensino? Acreditamos que as questões 1, 2, 3 e 4 foram respondidas nesta pesquisa, que serve como uma proposta de instrumento de avaliação das IMs com o uso do AHP em grupos de perfis discentes de ensino superior.

Além disso, este trabalho pode provocar os seguintes questionamentos relacionados à utilização das IMs na educação: 5) Quais metodologias podem ser empregadas para melhorar as inteligências com maior déficit? 6) Como esses resultados podem colaborar no desenvolvimento de novos currículos? 7) De que maneira podemos classificar a teoria das IMs para poder colaborar na educação especial? Baseado nisso, visualizamos outros trabalhos futuros para realizar.

Sendo assim, podemos concluir que o método AHP pode ser usado como método de classificação e avaliação para a teoria das IMs, pois o cálculo do método utiliza cada IM como critério em relação às demais, auxiliando assim a tomada de decisões estratégicas para escolher quais IMs precisam de mais atenção e as que podem ser aprimoradas e/ou incentivadas desde a infância ou até mesmo dentro da própria formação do ensino superior.

Os resultados desse trabalho podem servir como método de estratégia para o desenvolvimento de novos currículos, busca de novas práticas na sala de aula, avaliação dos perfis em determinados grupos (homogêneos ou heterogêneos), entre outras ações.

As limitações da pesquisa foram no sentido de utilizar apenas um instrumento de análise multicriterial. Portanto, para trabalhos futuros, pretendemos utilizar a base de dados obtida do trabalho e aplicar outras metodologias de análise multicriterial, como exemplo: Fuzzy Decision Approach (FDA) (Bellman, 1970), Measuring Attractiveness by a Categorical Based Evaluation Technique (MACBETH) (Carlos e Costa, 1997) ou Technique for Order Preference by Similarity to Ideal Solution (TOPSIS) (Hwang e Yoon, 1981).

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Recebido: 9 mar. 2022

Aprovado: 2 ago. 2023

DOI: 10.20985/1980-5160.2023.v18n2.1781

Como citar: Quadros, C.E.P., Adamatti, D.F., Longaray, A.A. (2023). Emprego da análise hierárquica de processos para avaliação do nível de importância das inteligências múltiplas em discentes de cursos de graduação. Revista S&G 18, 2. https://revistasg.emnuvens.com.br/sg/article/view/1781