André Andrade Longaray
longaray@yahoo.com.br
Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil
Vilmar Antonio Gonçalves Tondolo
vtondolo@gmail.com
Universidade Federal de Pelotas – UFPEL, Pelotas, Rio Grande do Sul
Rodrigo Lopes Ávila
rodrigolopesavila@gmail.com
Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil
Paulo Roberto Munhoz
paulorsmunhoz@hotmail.com
Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil
Rosana da Rosa Portella Tondolo
rosanatondolo@gmail.com
Universidade Federal de Pelotas – UFPEL, Pelotas, Rio Grande do Sul
Aléssio Bessa Sarquis
alessio.sarquis@gmail.com
Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, Tubarão, Santa Catarina, Brasil
A competitividade de mercado requer operações com eficiência e produtividade. No setor de varejo, a gestão de estoques se consolida como tema relevante, pois afeta a eficiência e produtividade das operações. Este estudo buscou caracterizar a produção científica brasileira sobre gestão de estoque no contexto do varejo, publicada entre 2006 e 2015. O estudo é de natureza exploratória e envolveu uma revisão bibliográfica de artigos científicos publicados nas bases de dados SciELO e Google Scholar. A técnica de análise utilizada foi a bibliometria. Os resultados indicam que: dentre as práticas de gestão de estoques utilizadas, a colaboração logística é a mais estudada (13% da amostra); 5% dos autores que publicaram sobre o tema respondem por 30% dos artigos; há a necessidade de ampliar os estudos sobre o tema, utilizando métodos quantitativos como levantamento de campo.
Palavras-chave: Logística; Gestão de estoques; Análise bibliométrica; Varejo.
Na sociedade moderna, o setor de varejo compreende diversas atividades econômicas e é responsável pela venda e entrega de mercadorias aos clientes finais. Segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), em 2015, o varejo no Brasil sofreu queda no volume de vendas: em junho, a queda foi de 0,4% em relação ao mês anterior; no ano, a retração foi de 2,2%. No ramo de vestuários, calçados e tecidos, a queda foi de 4,6% (IBGE, 2015).
A queda no volume de vendas afeta diretamente os níveis de estoques dos varejistas e a eficiência das operações. Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revelou que, em 2015, cerca de 29% dos empresários relataram estar com estoques acima do necessário e que o excesso de mercadorias armazenadas obriga a recorrerem a estratégias de liquidação, promoção e/ou queima de estoques (CNC, 2015).
Accioly et al. (2008) afirmaram que o excesso de estoques tende a gerar a necessidade de ampliar o capital investido e comprometer o retorno de investimentos. Veraldo Jr. et al. (2008) apontaram que o excesso de mercadorias gera custos extras, inclusive com depreciação, conservação, obsolescência e deterioração de produtos. Para melhorar a eficiência e produtividade organizacional, se faz imprescindível a redução do nível de estoques e/ou nos investimentos de capital em estoque (Toledo et al., 2010).
Como destacam Viegas et Sellitto (2015), no setor de varejo, a gestão de estoques afeta a qualidade do atendimento e das vendas oferecidos ao cliente. Afeta, também, as receitas de vendas, a competitividade de mercado e o desempenho financeiro da organização (Accioly et al., 2008). Assim, é importante equacionar as necessidades de demanda e produtividade de estoques, e dispor de eficiência no processo de armazenamento e entrega de mercadorias aos clientes.
Dentro dessa perspectiva, um levantamento da produção científica sobre práticas de gestão de estoque no varejo é relevante, pode auxiliar na ampliação do conhecimento sobre o tema e proporcionar aos gestores informações sobre as práticas de gestão mais utilizadas, bem como orientações para o planejamento de políticas de estoque. Com isso, emerge a seguinte questão norteadora de pesquisa: Quais as características da produção científica brasileira sobre práticas de gestão de estoques no contexto do setor de varejo? Assim, o estudo visa caracterizar a produção científica brasileira sobre práticas de gestão de estoque no setor de varejo, publicada entre 2006 e 2015. Para tanto, um levantamento bibliométrico foi realizado nos artigos científicos brasileiros publicados nas bases de dados Scielo e Google Scholar.
Este artigo está dividido em cinco seções. Finalizada a introdução, a seção 2 apresenta o referencial teórico sobre práticas de gestão de estoque e gestão da cadeia de suprimentos. A seção 3 descreve sobre o enquadramento metodológico utilizado no estudo, fundamentado na análise bibliométrica. A seção 4 apresenta os resultados da coleta de dados. E, por último, a seção 5 apresenta as considerações finais, com limitações e sugestões para futuros estudos sobre o tema.
A logística empresarial trouxe nova percepção à área, até então responsável principalmente pela movimentação de materiais. Com o tempo, constatou-se que, para entregar um produto em quantidade certa, local adequado e no período desejável, é imprescindível mais do que a movimentação/transporte, requer-se gestão de estoques, ou seja, a gestão de como os produtos são armazenados, produzidos e comprados, e a maneira como as informações correlatas circulam entre as partes/áreas interessadas (Machline, 2011). Com isso, outras variáveis pertinentes ao transporte de materiais foram destacadas.
Os esforços de logística empresarial incluem, normalmente, atividades internas da empresa. Entretanto, a gestão da cadeia de suprimentos compreende desde o início do processo e vai até as ligações entre fornecedores e clientes finais. Além da preocupação com o que ocorre ao longo da cadeia, precisa-se de colaboração entre as partes envolvidas na cadeia de suprimentos, visando obter maiores níveis de produtividade e eficiência (Machline, 2011). Essa colaboração tende a se intensificar em ocasiões especiais, como eventos, promoções de vendas e lançamentos de produtos.
Segundo o Council of Supply Chain Management Professionals (CSCMP, 2013), a gestão da cadeia de suprimentos engloba o planejamento e gerenciamento de todas as atividades envolvidas na pesquisa e procura de materiais, a aquisição e a gestão das atividades logísticas. Inclui, também, a coordenação e colaboração com os parceiros do canal de suprimentos, que podem ser fornecedores, intermediários, clientes e outras partes/áreas interessadas. A gestão da cadeia de suprimentos requer a integração entre fornecimento e demanda e entre as empresas envolvidas; exige, ainda, o relacionamento com outros setores/áreas da empresa, como marketing, vendas, produção, financeiro e tecnologia da informação.
Um objetivo relevante da gestão de estoques é equilibrar o nível de estoque da empresa com o nível de demanda dos clientes, atendendo tanto aos interesses da empresa como os dos clientes. O nível ótimo de estoques é o que garante produtos suficientes para atender as demandas/vendas previstas, sem a necessidade de elevação dos investimentos em estoque. Alguns fatores influenciam o nível ótimo de estoques, quais sejam (Pick et al., 2011): volume de vendas (quanto maior o volume de vendas, maior a necessidade de produtos em estoque); variedade de produtos (quanto maior o número de itens/artigos, menor o giro de estoque); tamanho da empresa (grandes empresas necessitam de maior volume e variedade de produtos); frequência de pedidos/vendas (quanto mais frequentes forem os pedidos, menores são os níveis de estoque).
Quanto à tipologia, os estoques podem ser classificados de diferentes maneiras. De acordo com Pick et al. (2011), há estoque de segurança, aquele necessário para compensar incertezas do negócio; estoque de ciclo, o que mantém o fornecimento de materiais mesmo quando os produtos não são produzidos de forma simultânea e continuada; estoque de antecipação, aquele formado previamente à demanda; e estoque no canal de distribuição, que é armazenado ao longo da cadeia de suprimentos, geralmente devido à demora no envio de mercadorias ao varejista.
Os custos de estoque variam conforme a quantidade de produtos necessária. Esses custos incluem os gastos com aquisição, conservação e manutenção de produtos, e oscilam conforme quanto e quando são solicitados. Geralmente, os custos mais relevantes são (Pick et al., 2011): execução de pedidos, que inclui custos com preparação/emissão de pedidos, inspeção/recebimento de materiais e registro/pagamento de pedidos; custo de falta de estoque, isto é, vendas que deixaram de ser realizadas em razão da ausência de produtos; custo de armazenagem, que se refere ao modo como os produtos são armazenados; custos de obsolescência, relacionados com a inutilização do produto, seja porque ficou ultrapassado ou porque venceu o prazo de validade.
No contexto das empresas varejistas, os estoques representam parte significativa dos custos operacionais, podendo atingir 70 a 85% do custo total (Toledo et al., 2010). No varejo, o faturamento líquido é a diferença entre o custo de mercadorias vendidas e o preço de venda ao consumidor. Na gestão de estoques, a redução do custo de estocagem tem impacto positivo na margem de lucro da organização. Com isso, a gestão e o controle de estoques são relevantes para o desempenho da organização.
O controle de estoques requer informações sobre os níveis de estoque dos diferentes produtos e a comparação da quantidade real (consumida) em relação à quantidade planejada. Tais informações podem ser obtidas e repassadas de maneira oral ou visual, mas quando documentadas tendem a facilitar futuras análises ou a recuperação de dados. O controle de estoque pode possibilitar, também, a otimização dos estoques e a redução na perda de vendas por falta de produtos (Kunigami et Osório, 2009). Como destacam Machado et Tondolo (2014), a falta de produtos no ponto de venda pode comprometer o desempenho e a imagem do varejista junto aos clientes.
Na cadeia de suprimentos, o varejista é o último agente intermediário e aquele que se relaciona diretamente com o consumidor final. A interação do varejista com outros agentes da cadeia ocorre conforme a variação no volume de vendas/pedidos e, consequentemente, na disponibilidade do estoque, e repercute diretamente nos estoques de atacadistas, fabricantes e fornecedores envolvidos. Assim, o varejista é o elo mais sensível na variação da demanda dos clientes finais (Toledo et al., 2010) e influencia no desempenho da cadeia.
Nesse contexto, destaca-se a logística colaborativa, que busca promover o trabalho junto às empresas envolvidas em determinada cadeia de suprimentos, com confiança, lealdade e ajuda mútua. A logística colaborativa possibilita a redução de custos e o uso compartilhado de equipamentos/recursos. Para tanto, os diferentes participantes da cadeia de suprimentos precisam ter objetivos e metas em comum, e um sistema de comunicação integrado. Além disso, há necessidade de indicadores de desempenho que assegurem a colaboração entre as empresas envolvidas, a participação da gerência e o comprometimento dos funcionários (Vieira et al., 2013).
Por fim, a gestão de estoques requer estratégias competitivas adequadas, como a confiança interorganizacional e a gestão de relacionamentos entre os participantes da cadeia de suprimentos. A confiança interorganizacional pode representar vantagem competitiva, pois relacionamentos entre organizações são difíceis de imitação e/ou reprodução pelos concorrentes. Ademais, como documentos legais não são capazes de prever todas as eventualidades possíveis, a confiança interorganizacional pode colaborar para que tarefas rotineiras sejam realizadas de maneira adequada e sustentável (Tacconi et al., 2014). Assim, tópicos relevantes, como logística colaborativa e gestão de estoques, podem ser estudados sob a perspectiva do que está exposto na literatura científica, o que torna relevante a realização de revisão sistemática da produção científica brasileira sobre práticas de gestão de estoque no contexto do varejo.
Esta pesquisa se caracteriza como exploratória, com abordagem quantitativa. Para atender ao objetivo proposto, uma análise bibliométrica da produção científica brasileira sobre práticas de gestão de estoque no contexto do varejo foi realizada. A bibliometria é o estudo de aspectos quantitativos da produção, disseminação e uso de informação registrada (como a produção científica em determinada área), a partir de padrões e modelos matemáticos (Sciasci et al., 2012). A pesquisa abrange duas fases da análise bibliométrica: a coleta de referências/artigos necessários ao cumprimento do objetivo estabelecido; e a apresentação e análise descritiva dos resultados, com auxílio de técnicas estatísticas (Kleinubing, 2010; Longaray et al., 2015; 2016).
Neste estudo, a coleta de dados envolveu a busca e seleção de artigos científicos disponíveis na Internet, em bases de dados online selecionadas. Nessa busca foram consultados artigos oriundos de anais de eventos (encontros e simpósios) e de periódicos científicos relacionados às áreas de administração, logística e engenharia de produção, como apresentado no Apêndice A. A escolha dessas fontes (periódicos e anais) ocorreu pela frequência de publicações sobre o tema nas bases de dados selecionadas: SciELO (Scientific Electronic Library Online) e Google Scholar. Dessa forma, buscou-se obter com fidelidade a produção científica brasileira sobre práticas de gestão de estoques dentro dos parâmetros estipulados. A coleta dos artigos/referências ocorreu em outubro de 2015.
Na base SciELO, a procura foi feita com base nos índices de pesquisa. Ao todo, foram realizadas oito buscas (1-8), utilizando-se as seguintes expressões: logística and estoque; estoque and varejo; suprimentos and varejo; logística and varejo; logística and suprimentos; prática and gestão and estoque; práticas and gestão and estoque; desempenho and gestão and estoque. Na Tabela 1, destaca-se o número da busca, a expressão utilizada e o número de resultados obtidos. No Google Scholar, por sua vez, a procura de artigos foi realizada por meio da busca de expressões e artigos relacionados aos tópicos pesquisados. Foram realizadas oito pesquisas (9-16), utilizando-se as seguintes expressões: gestão de estoques; logística de suprimentos; logística interna; gestão da cadeia de suprimentos; cadeia de suprimentos; gestão de materiais; logística empresarial; e práticas logísticas. Na Tabela 1 contém, também, o número da pesquisa, a expressão utilizada e os resultados obtidos.
Tabela 1. Pesquisas realizadas nas bases de dados SciELO e Google Scholar
Fonte: dados da pesquisa
Após a busca nas respectivas bases de dados, os artigos identificados foram filtrados, excluindo-se os repetidos, os não disponíveis em formato de texto completo, os publicados fora do período estipulado ou que não tinham alinhamento integral com o escopo do presente estudo. Na base de dados SciELO foram encontrados 83 artigos; desta amostra, sete estavam repetidos e 32 foram rejeitados por não possuírem relação com o escopo do estudo. Com isso, nessa base de dados foram selecionados 44 artigos. No Google Scholar, foram encontrados 655 artigos, dos quais, 56 foram selecionados para completar o portfólio final de referências/artigos a serem analisados. A lista completa dos artigos incluídos na amostra final encontra-se disponível no Apêndice B. Os artigos selecionados foram, depois, analisados em categorias temáticas, de acordo com o objetivo do estudo, quais sejam: estudo da produção e autoria; estudo do conteúdo; estudo das referências bibliográficas.
Esta seção contém a apresentação e a análise dos resultados desta pesquisa. Primeiro, mostram-se os resultados do estudo da produção e autoria, seguidos dos resultados do estudo do conteúdo. Por fim, são apresentados os resultados referentes ao estudo das referências bibliográficas.
O estudo da produção e da autoria buscou levantar a quantidade de publicações por ano e analisar a quantidade de autores dos artigos publicados. Buscou-se, também, identificar os autores e universidades mais prolíficos no assunto, elencando-os de acordo com a quantidade de publicações no período estudado. Para verificar a evolução quantitativa da produção científica com relação às práticas de gestão logística, construiu-se um histograma com a quantidade de publicações por ano, assim como a respectiva linha de tendência linear, representado na Figura 1. Constata-se que a produção da amostra, no período analisado, apresenta tendência de redução de cerca de um artigo por ano, com um coeficiente de determinação de 0,05. Como é possível observar, há certa tendência decrescente nas publicações sobre o tema. O quadriênio 2008-2011 representa 50% do volume total de artigos publicados sobre o tema no período.
Figura 1. Evolução das publicações por ano
Fonte: Dados da pesquisa
A Tabela 2 apresenta a classificação da amostra de artigos com relação à quantidade de autores por artigo. Verifica-se que a maioria dos artigos contém dois ou três autores/pesquisadores (69% da amostra) e que há poucos estudos com apenas um ou mais de quatro autores (14%). Assim, observa-se que grande parte dos estudos publicado sobre o tema envolveu parcerias entre autores/pesquisadores e, eventualmente, entre diferentes universidades/instituições.
Tabela 2. Quantidade de autores por artigo
Fonte: dados da pesquisa
Para identificar os autores mais prolíferos no tema, a produção dos autores foi analisada considerando a participação na amostra de artigos selecionados. A Tabela 3 apresenta aqueles autores com três ou mais artigos publicados, e sua respectiva porcentagem no total de autores levantados. Os autores mais produtivos no tema são: Wanke, P., com cinco participações; e Vieira, J. e Sellitto, M, com quatro participações cada um.
Tabela 3. Autores com mais participações na amostra
Fonte: Dados da pesquisa
Finalizando o estudo da autoria, analisou-se as universidades mais prolíficas na produção científica sobre o tema, considerando as instituições dos autores dos artigos. A Tabela 4 apresenta a relação das instituições, com a quantidade de artigos e o percentual em relação à quantidade total de artigos. No total, foram levantadas 58 instituições/universidades, sendo as mais produtivas na amostra de artigos selecionados: a Universidade de São Paulo (USP), com 23 artigos (16,7%); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com 9 artigos (6,7%); e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com 7 artigos (5,1%). As instituições Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) contribuíram com 6 (4,3%) artigos cada. Assim, observa-se que quantidade significativa da produção científica nacional sobre o tema é oriunda de instituições localizadas na região Sudeste do Brasil, especificamente dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Tabela 4. Universidades com mais participação na amostra
Fonte: Dados da pesquisa
Com relação ao conteúdo dos artigos selecionados, verificou-se quais as práticas mais abordadas nos estudos publicados no período analisado, as palavras-chave de maior recorrência nos artigos selecionados e as metodologias de pesquisa mais utilizadas. A Tabela 5 apresenta os resultados dos subtemas mais abordados nos artigos analisados. Nessa tabela estão descritas apenas as práticas que apareceram em, no mínimo, cinco artigos da amostra, do total de 25 subtemas identificados. A prática de colaboração logística foi a mais frequente (13 artigos), seguida das estratégias competitivas (10 artigos), controle de estoque (9 artigos) e nível de formalização da logística (9 artigos). A temática medição de desempenho e tecnologia da informação foram, também, práticas bem abordadas, presentes em oito artigos científicos cada. Com isso, nota-se que colaboração logística e estratégias competitivas são assuntos em destaque nos estudos acadêmicos brasileiros sobre a gestão de estoques no contexto do setor de varejo.
Tabela 5. Subtemas mais abordados nos artigos selecionados
Fonte: Dados da pesquisa
As palavras-chave mais frequentes estão relacionadas com as expressões de busca (descritores) utilizadas na coleta de dados deste estudo. Os resultados exibidos na Tabela 6 referem-se às expressões que apareceram, no mínimo, cinco vezes. No todo, 254 palavras-chave foram identificadas. A expressão que apareceu mais vezes foi logística (26 vezes), presente em 26% dos artigos da amostra. Depois, as expressões gestão da cadeia de suprimentos (16%) e cadeia de suprimentos (14%). Além dessas, as palavras varejo e estoque estão entre as mais utilizadas, aparecendo 12 e 10 vezes, respectivamente. Assim, cabe destacar que a frequência de palavras-chave está relacionada com a importância dada as práticas de gestão e enfatizam fortemente expressões ligadas à área de logística.
Tabela 6. Resumo das palavras-chave identificadas
Fonte: Dados da pesquisa
Por último, no estudo do conteúdo, identificou-se os métodos/procedimentos metodológicos mais utilizadas nos estudos selecionados, conforme resumo apresentado na Tabela 7. O estudo de caso foi a estratégia de pesquisa mais utilizada, presente em 21 artigos (20%), seguida da revisão bibliográfica, com 15 artigos (14,2%). A pesquisa na forma de levantamento de campo (survey) e pesquisa exploratória também foram bastante abordadas: 12 e 10 artigos, respectivamente. Assim, observa-se a necessidade de se ampliar os estudos sobre o tema, por meio de pesquisas do tipo descritivo e de múltiplos casos.
Tabela 7. Resumo das metodologias de pesquisa mais utilizadas
Fonte: Dados da pesquisa
Na etapa da análise das referências dos artigos selecionados, buscou-se identificar as referências bibliográficas mais relevantes nos 100 artigos selecionados. Para tanto, as 4.953 referências foram analisadas. A Tabela 8 apresenta as características das referências com maior repercussão (em termos de quantidade de citações no Google Acadêmico), com autores, título e tipo de documento. A análise do título das referências citadas mostra relação com as palavras-chave e práticas de gestão identificadas anteriormente, com enfoque para a área de logística. No método de pesquisa, entre os mais citados estão duas obras, um livro (Yin, R.) e um artigo (Eisenhardt, K), que tratam da estratégia de estudo de caso.
Tabela 8. Obras de maior repercussão entre as referências citadas
Fonte: Dados da pesquisa
O presente estudo bibliométrico buscou, ainda, analisar os artigos de maior relevância. Para tanto, analisou-se o somatório de dois indicadores: 1) quantidade de vezes que o artigo foi citado na base de dados Google Scholar; e 2) quantidade de vezes em que o artigo foi citado nas próprias referências dos artigos selecionados. O Google Scholar informa a quantidade de vezes que o artigo selecionado foi citado em outros documentos. Valendo-se dessa informação, todos os 100 artigos selecionados foram consultados nesta base em 22 de novembro de 2015. Em seguida, para compor o segundo indicador, fez-se a contagem das citações dos artigos selecionados nas 4.953 referências utilizadas.
A Tabela 9 apresenta a lista dos 15 artigos mais relevantes. Na primeira coluna contém o número de identificação do artigo (“ID”) na relação dos 100 artigos selecionados; na segunda coluna contém o título; na terceira coluna contém o ano de publicação; e, na quarta, a fonte/revista. A quinta e sexta coluna são formadas pelos indicadores da quantidade de citações no Google Scholar (GS) e nas referências bibliográficas (RB), respectivamente. Finalizando, a sétima coluna apresenta o somatório (∑) da quantidade de citações de cada artigo analisado. As referências mais citadas abordam as práticas e palavras-chave mais frequentes nos estudos, com destaque para os termos logística, cadeia de suprimentos, competitividade e colaboração logística.
Tabela 9. Artigos selecionados em ordem de relevância
Fonte: Dados da pesquisa
Este estudo buscou caracterizar a produção científica brasileira sobre práticas de gestão de estoque no contexto do varejo do período 2006-2015. Para tanto, utilizou-se a técnica de bibliometria na execução do estudo da produção, da autoria, do conteúdo e das referências bibliográficas dos artigos selecionados.
Os resultados do estudo revelaram que as principais práticas abordadas são a colaboração logística, estratégias competitivas e controle de estoque. Essa característica indica que as principais práticas de pesquisa sobre gestão de estoque no varejo seguem a tendência de enfatizar a logística, a competitividade e o estabelecimento de parcerias estratégicas. Tais práticas afetam a gestão das empresas varejistas e servem de referência para a elaboração de estratégias de gestão de estoques. No que tange ao método de pesquisa utilizado nos artigos analisados, os resultados apontaram que o estudo de caso é o mais utilizado. Essa característica ressalta a necessidade de mais estudos quantitativos e na forma de levantamento de campo, e de análise dos tipos de estudos e caso desenvolvidos, isto é, se os estudos atendem aos critérios que requerem estudo de caso único, em especial, a de singularidade do caso.
Quanto aos autores mais prolíficos, pode-se destacar: Peter Fernandes Wanke (UFRJ), José Geraldo Vidal Vieira (UFScar), Miguel Afonso Sellitto (UNISINOS), Danilo Hisano Barbosa (USP) e Fernando Henrique Oliveira de Aguiar (PUC/SP). Já as universidades que mais se destacaram no tema foram a USP, a UFRJ, a UFSCar, e a UNISINOS. Esse resultado aponta quais pesquisadores e universidades brasileiras estão na liderança da pesquisa sobre gestão de estoque no contexto do setor do varejo.
Como limitações desta pesquisa pode-se destacar a quantidade de artigos analisados, e as próprias bases de dados. Além disso, as referências bibliográficas apresentaram uma dificuldade maior para análise devido ao seu número elevado e a falta de padronização das mesmas. Como sugestões para futuros estudos, aponta-se a necessidade de investigar práticas de gestão de estoque no contexto do varejo nos ramos de vestuário, calçados e tecidos, isto porque não foram encontrados, nesta amostra, estudos produzidos nesses ramos de atividade. No âmbito da pesquisa bibliométrica, recomenda-se ampliar a quantidade de periódicos analisados, bases de dados e/ou a realização de análise comparativa entre a produção científica nacional e internacional sobre o tema.
Accioly, F; Ayres, A.; Sucupira C. (2008), Gestão de Estoques, FGV, Rio De Janeiro, RJ.
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo - CNC (2015), Índice de Confiança do Empresário do Comércio, Brasília, DF, disponível em: http://www.cnc.org.br/central-do-conhecimento/pesquisas/economia/indice-de-confianca-do-empresario-do-comercio-icec-julho- (acesso em 22 ago. 2015).
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Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2015), Pesquisa Mensal do Comércio, Rio de Janeiro, RJ, disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Comercio_e_Servicos/Pesquisa_Mensal_de_Comercio/Fasciculo_Indicadores_IBGE/ (acesso em 22 ago. 2015).
Kleinubing, L. (2010), “Análise bibliométrica da produção científica em gestão da informação na base de dados LISA”, Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Vol. 8 No. 1, pp. 01-11.
Kunigami, F.; Osorio, W. (2009), “Gestão no controle de estoque: estudo de caso em montadora automobilística”, Revista Gestão Industrial, Vol. 5 No. 4, pp. 24-41.
Longaray, A.; Popiolek Junior, T.; Munhoz, P. et al. (2015), “Caracterização da produção científica brasileira sobre a aplicação de métodos multicritério de apoio à decisão: uma análise das publicações entre 2004 – 2013”, artigo apresentado no ENEGEP 2015: XXXV Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Fortaleza, CE, 13-16 out. 2015.
Longaray, A.; Ensslin, L.; Munhoz, P. et al. (2016), “A systematic literature review regarding the use of multicriteria methods towards development of decision support systems in health management”, Procedia Computer Science, Vol. 100, pp. 701–710.
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Machline, C. (2011), “Cinco décadas de logística empresarial e administração da cadeia de suprimentos no Brasil”, Revista de Administração de Empresas, Vol. 51, No. 3, pp. 227-231.
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Veraldo Jr., L.; Salomon, V.; Marins, F. (2008), “Gestão de estoque excedente com proposta de redução através de decisão multicriterial”, artigo apresentado no ENEGEP 2008: XXVIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção, Rio de Janeiro, RJ, 13-16 out. 2008.
Viegas, H.; Sellitto, M. (2015), “Análise multicritério no gerenciamento do sortimento de produtos no varejo de supermercados”, Sistemas & Gestão, Vol. 10, No. 2, pp. 238-253.
Vieira, J.; Junior, J.; Hattori, R. (2013), “Colaboração Logística entre Cliente e Fornecedor: Uma Aplicação de Análise Visual de Dados”, Sistemas & Gestão, Vol. 8 No. 1, pp. 2-18.
Recebido: 08 abr. 2015.
Aprovado: 11 out. 2017.
DOI: 10.20985/1980-5160.2017.v12n4.1195
Como citar: Longaray, A.A.; Tondolo, V.A.G.; Ávila, R.L et al. (2017), “Práticas de gestão de estoque no varejo: um panorama da produção científica brasileira”, Sistemas & Gestão, Vol. 12, No. 4, pp. 477-490, disponível: http://www.revistasg.uff.br/index.php/sg/article/view/1195 (acesso: dia mês abreviado ano).
Apêndice A - Fontes de dados empregadas na pesquisa
Fonte: dados da pesquisa
Apêndice B – Lista completa de artigos